Um avivar das raizes

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terça-feira, 27 de julho de 2010

São Cucufate








O local onde se situa a villa de S. Cucufate inicia a sua longa e diversificada história com a ocupação do local a partir do Neolítico Final, tendo sido depois habitado por uma população pré-romana. A villa romana apresenta-se como o tipo clássico de propriedade de exploração intensa, exclusivamente orientada para o mercado. Em termos arqueológicos encontra-se articulada com as vias de comunicação e nas proximidades das cidades. Esta ainda pressupõe a existência de uma força de trabalho de cerca 10/12 pessoas de condição servil ou livre, mas não ligada ao proprietário. Assim em meados do século I d.C. deu-se lugar à construção de uma villa, de condições e dimensões ainda muito rústicas, mas que adivinhava já a implantação ou reconstrução de uma nova villa adaptada às necessidades arquitectónicas, estéticas e funcionais da época, ou seja do século II d.C., constituindo um dos poucos exemplares da Península Ibérica de Villae cum turris.
O edifício é abandonado aquando das grandes invasões bárbaras, e só volta a ser ocupado, mais tarde, por volta do século X d.C., pelas comunidades muçulmanas. Aquando da Reconquista Cristã, no século XII, é de novo abandonado pelos seus ocupantes, só voltando a ter vida no século XIII, onde se estabeleceu um convento, que permanece até ao século XVI e cujo santo padroeiro deu o nome ao edifício que é hoje S. Cucufate.
Apesar de ter sido evacuada provavelmente com a ameaça de ruir, a villa manteve a sua capela, cujo culto foi perpetuado até ao século XVIII.Monumento de altíssimo valor e extremamente bem conservado, a villa de S. Cucufate ficava situada na circunscrição administrativa de Pax Iulia, tendo esta cidade sido, provavelmente, a sua grande cliente no mercado de vinho, pão e de azeite, tendo este tipo de produção ficado atestado pela descoberta de grainhas de uvas perto de uns pesos de prensas, e pelo respectivo lagar.

Cronologia
Séc. 1 - construção de uma primeira "villa", de que subsistem as termas, seguindo o modelo das residências em torno de um perístilo; séc. 3 / 4 - construção da segunda "villa" romana; séc. 9 - data provável da fundação do convento, que se terá mantido até final do séc. 12, utilizando as instalações da "villa"; 1254 - criação da paróquia de São Cucufate, instalada no convento e entregue ao mosteiro de São Vicente de Fora; aos cónegos agostinhos de São Vicente sucedem-se, em data desconhecida, os frades de São Bento; séc. 17 - abandono do edifício pela comunidade monástica, tendo apenas permanecido um frade eremitão; apenas a capela continuou a servir, provavelmente até ao séc. 18; 2001 - arranjo paisagístico e construção centro de acolhimento e interpretação sob projecto dos Arqs. Franscisco Caldeira Cabral e Nuno Bruno Soares.

Tipologia
Arquitectura civil, arquitectura religiosa, romana. "Villa" com planta em "U" aberto, 2 pisos, constituindo o piso superior a zona residencial, com fachada principal porticada antecedida por terraço, acentuando a saliência dos 2 corpos laterais; fachada posterior antecedida por galeria. Integra-se no tipo das "villae" céltico-romanas, comum nas Gálias, Germânia e Britânia (Almeida, 1971). A S. da "villa" um templo formado por "cella" e ábside, idêntico ao de Milreu e da Quinta do Marim, outrora provavelmente ligado à "villa" por ala habitada ou por galeria porticada, que possivelmente também rodeava o templo. Do convento medieval resta a capela adaptada ao corpo lateral N., possívelmente das primeiras igrejas construídas na Lusitânia (Almeida, 1971)

Características Particulares
A villa romana supera em dimensões todas as "villae" romanas de Portugal, desconhecendo-se ainda a real extensão da "pars rustica", que se estenderia para S.. Ao contrário da restante arquitectura civil romana conhecida em Portugal, que se articula em torno de perístilos, esta "villa" desenvolve-se em altura, com um piso nobre suportado por galerias abobadadas e as fachadas principais porticadas flanqueadas por corpos salientes. Os paralelos mais próximos são as Villas romanas de Milreu, de Pisões e do Rabaçal.

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